Sunday 19 February 2017

Mi padre!


Este es mi padre! É dizê-lo assim para o mundo é uma grande conquista!

Fomos separados ainda antes de eu nascer por força de várias circunstâncias, entre elas o regime ditatorial cubano, razão pela qual não foi possível registar a paternidade. 
Mãe portuguesa, pai Cubano, gerada em Vigo, na Galiza, nascida em Portugal.
Desde que aprendi a falar aprendi as duas línguas (português e espanhol) e quando aprendi a escrever tentei transcrever aquilo que falava em duas línguas. E isto foi de extrema importância para que a milhares de quilómetros pudéssemos manter o contacto. As cartas demoravam (e ainda demoram) 4 semanas a chegar a Havana e 2 meses a chegar a Portugal. Ainda assim o nosso Amor se expressou assim por anos e anos a fio! Estas cartas significaram tanto para mim que durante muito tempo, na minha adolescência, a minha relação com o masculino, para além de platónica, era expressa em cartas de Amor anónimas e durante muito tempo acreditei que o Amor só era real se existisse saudade. 
A minha mãe sempre me disse que eu era paciente, tolerante e ponderada como o meu pai. Nas suas cartas ele dizia-me para amar e cuidar a minha mãe e acima de tudo para ser fiel ao meu coração, lutar pelo que acredito e nunca ter medo de conquistar os meus sonhos. A Junho de 2010 rumo finalmente a Havana com a minha prima Yuly... o sonho tornava-se real, mas o que não sabíamos era que apenas uma nova fase começava. Com muita pena minha não fui a tempo de conhecer os meus avós paternos, principalmente a Matriarca que me deu o seu nome. Após a emoção e reconhecimento, o choque cultural foi tremendo para mim. Reconhecer-me naquela origem e aceitar o meu masculino distante agora presente, levou-me a recusar o registo de paternidade. Foram precisos quase 9 anos, muitas viagens interiores, muita Catarse e muito silêncio para processar o que se moveu em mim naqueles 15 dias em Cuba.
7 anos depois, reconheço em mim a compaixão, o perdão e a pacificação e iniciamos agora, finalmente o processo de perfilhação. Este reconhecimento não apenas o de uma aceitação de pai <-> filha, é o reconhecimento de que não só eu sofri com a sua ausência no meu desenvolvimento e gostaria de ter a sua proteção nos momentos que mais a exigiram, mas ao mesmo tempo de que ele, como filho, vindo de um seio familiar de amor, estrutura e suporte também sofreu por querer dar-me o que ele teve, sem poder agir. E neste anos aguardamos com resiliência pelos processos de cada um e burocráticos, quase quase em ponto de serem resolvidos.
E assim esta figura que por muito tempo me pareceu estranha hoje é a minha conquista e a minha inspiração. Este olhar doce e carinhoso hoje é um chão que me apazigua o coração e as escolhas que a minha alma fez ao encarnar através de dois loucos apaixonados.
Que ao vosso coração sempre chegue a esperança e a preserverança para os casos que vos parecem inalcançáveis!


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