Wednesday 19 June 2013

Parábola do rei jardineiro



"Um rei procurou um mestre zen para aprender jardinagem. O mestre o instruiu durante três anos - e o rei tinha um grande, belo jardim - milhares de jardineiros trabalhavam lá - e, tudo o que o mestre dizia, o rei ia e experimentava no seu jardim. Depois de três anos, o jardim ficou pronto, e o rei convidou o mestre para ir ver o jardim. Aliás, o rei estava muito nervoso, pois o mestre era rigoroso: "Ele gostará do jardim?" - isso ia ser uma espécie de teste - "Será que ele dirá: 'Sim, você assimilou minhas lições?'"

Todos os cuidados foram providenciados. O jardim ficou comovedoramente perfeito, sem que nada lhe faltasse. Somente então o rei trouxe o mestre para vê-lo. Mas o mestre ficou triste assim que viu o jardim. Ele olhou aqui e ali, moveu-se de um lado para o outro, e foi ficando cada vez mais sério: 'Por que ele parece triste? Há algo tão errado assim?

E o mestre não parava de menear a cabeça e dizer a si mesmo: 'Não'.

Então, o rei perguntou-lhe: - Qual o problema, mestre? Que há de errado? Por que você não fala nada? Você está ficando muito sério e triste, e não pára de abanar a cabeça. Por quê? Que há de errado? Não vejo nada errado. Tudo isto é o que você me tem ensinado e o que eu tenho posto em prática no jardim.

- Ele está tão bem-acabado, que está morto. Está muito completo - é por isso que estou meneando a cabeça e dizendo não. Onde estão as folhas mortas? Onde estão as folhas secas? Não vejo uma folha seca sequer! - disse o mestre. - Todas as folhas secas tinham sido recolhidas - nas alamedas não havia folhas secas; nas árvores não havia folhas secas, nenhuma folha velha que se houvesse amarelado.- Onde estão essas folhas?

O rei respondeu: - Eu disse a meus jardineiros que removessem todas, que o tornassem tão perfeito quanto possível.

- É por isso que ele parece tão sem graça, tão artificial. As coisas de Deus jamais são acabadas - tornou o mestre. E saiu, saiu do jardim do qual todas as folhas secas haviam sido recolhidas. E voltou trazendo algumas folhas secas num balde, lançou-as ao vento, e o vento as apanhou e começou a brincar com as folhas secas e espalhá-las pelas veredas. E o mestre rejubilou-se com isso. E disse: - Veja agora, como ele parece vivo! - E uma melodia natural impregnou o ambiente com as folhas secas - a melodia das folhas secas, do vento a brincar com elas.

Agora o jardim sussurrava; antes disso, parecia sem vida, morto como o ambiente de um cemitério. Seu silêncio não tinha vida."


Parábola zen-budista, citada pelo Osho no livro Criatividade

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